domingo, 12 de agosto de 2007

o dia em que nasci

O dia em que nasci passou já há algum tempo. Quase um mês já vivi desde essa data. Este ano foi diferente. Senti de modo mais demorado esse dia memorável em que nos lembramos que nascemos, em que percebemos que o tempo passa. É como o Natal ou o verão. Sempre tempos de "já chegámos outra vez ao Natal ?; Já é verão de novo! Que bom!
É uma espécie de relógio anual, que marca apenas algumas horas por ano. As horas exteriores, comuns a todos, e mais democráticas. E as horas pessoais, mascadas pelo nosso viver e pela relação com a vida e o mundo. O meu Verão termina sempre muito mais depressa que o Inverno, que como me aborrece demora a ir embora, como uma visita chata nalgum jantar. E há aquelas datas muito nossas, aqueles lugares que só nós sabemos o que guardam. Fazem parte também do tempo, porque parte do nosso mundo. Contemos em nós o espaço e o tempo, e são cá dentro a mesma coisa. Há tempos ou pontos temporais que nos lembram espaços. Há lugares que nos lembram tempos.
A idade aviva a memória. É um paradoxo. Um contrasenso, uma anacronia! Mas é assim. Pelo menos comigo. O aniversário avivou memórias, rastos dos anos passados, pixels de imagens já guardadas. Aparecem até cheiros, sombras, detalhes, sons. E aparecem referências fortes, de uma juventude vivida em grandes férias de verão. Pelo calor e granito do Marão e do Gerês e pelo igual calor e ondulante criação alentejana. E é um tempo feliz, passado em movimento, em contacto, em viagem. E o que vou descobrindo agora é o quanto isso me marcou.
Talvez seja a altura especial que vivo, de questionamento, regresso, sedimentação, escolha, que propicie a um redescobrir o que é realmente importante. Ou o que faz essencialmente parte de mim.
A verdade é que este dar tempo e espaço, até a mim próprio, tem os seus efeitos, e faz surgir o inesperado.
Proporciona esta leveza, esta diluição, que permite o surgir natural de tudo aquilo que me constitui.
E é bom. E feliz.

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